01 novembro 2005

Final de ano e correria total


Bom dia a todos.

Estamos na correria para dar conta de tudo que temos que fazer e sem perder a energia para nossa viagem ao Cariri - Ceará para participar da VII Mostra de Teatro. A programação definitiva ainda não saiu, tão logo a veiculem, colocaremos no Blog.

Paralelamente estamos conduzindo os ensaios do espetáculo "Calendário para Ocas Histórias" que tem data prevista de estréia em fevereiro, mas já com pré-estréia confirmada nos dias 14, 15 e 16 de dezembro na Casa das Rosas - sempre às 20:00 horas.

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Vale salientar que estamos nos preparando para o centenário Beckett em 2006 e tem lançamento de Esperando Godot com nova Tradução, agora por Fábio de Souza Andrade, professor de teoria literária da Universidade São Paulo. Escrita em francês, a peça estreou em 1953 e se tornou um divisor de águas no teatro do século passado. Na história, dois vagabundos aguardam infinitamente, num descampado, a vinda do senhor Godot, que nunca aparece.O apêndice informativo da edição inclui seção de fotos de montagens históricas de Godot e sugestões de leitura complementar. O valor sai por R$ 48,00
Veja o que saiu na Ilustrada da Folha de São Paulo do dia 15/10/2005 por ADRIANO SCHWARTZ

Obra aproxima universo de BeckettChega quase a surpreender (positivamente) que, em um país de poucos leitores, as editoras estejam dando um tratamento tão especial a certos autores nos últimos anos. É o caso dos contos de Machado de Assis que vêm sendo lançados pela Martins Fontes, das obras de Nabokov pela Companhia das Letras, dos romances de Dostoiésvki pela ed. 34 ou dos textos de Samuel Beckett pela Cosacnaify. Deste, acaba de ser publicada a peça "Esperando Godot", com tradução e prefácio de Fábio de Souza Andrade, que já vertera para o português "Fim de Partida" e é também autor de um ótimo estudo sobre o escritor ("O Silêncio Possível", ed. Ateliê).Qualquer aproximação ao universo ficcional de Beckett é complicada. Até mesmo um resumo de seus textos se torna uma tarefa bem espinhosa, o que faz sentido ("não há nada para ver"), afinal ele dinamita sistematicamente as noções convencionais de narrativa e de gênero. Aqui, por exemplo, tem-se dois homens, Vladimir e Estragon, que não podem sair do lugar em que estão porque precisam esperar por um Godot que nunca chega. Enquanto isso, conversam sobre quase nada e interagem com uma outra dupla, Pozzo e Lucky, sobre a qual o leitor/espectador fica sabendo menos ainda. Não é por acaso que o título de um ensaio sobre a outra peça fundamental do escritor feito pelo filósofo alemão Theodor Adorno seja "Tentando Entender "Fim de Partida'"...Repetições constantes, referências às vezes veladas, às vezes não, às tradições literárias, filosóficas e religiosas, jogos de simetria e assimetria obsessivos, memórias apagadas quase instantaneamente povoam a peça e, ao mesmo tempo, convidam à interpretação. Como diz Estragon, "nada a fazer a respeito". Na verdade, não é bem assim, como prova a quantidade de livros e artigos que "tentam entender", com variadas doses de sucesso, a ficção do autor.Mas há também quem desista, ou melhor, escolha um atalho, como o renomado crítico beckettiano Raymond Federman, que, depois de mais de 40 anos tentando entender, chegou à conclusão de que não havia um "sentido oculto" a ser decifrado naqueles textos, não havia ali uma simbologia: (Vladimir) "Isso está ficando cada vez mais insignificante". (Estragon) "Não o suficiente. Ainda". Para ele, não se trata de significado, e sim de superfície, da forma da linguagem: Beckett pintava quadros com palavras, e sua obra, como Federman demonstra a partir da "exposição" de vários trechos, correria paralela à evolução da pintura no século 20, passando pelo neo-impressionismo, pelo expressionismo, pelo cubismo, pelo surrealismo, pelo expressionismo abstrato, por experimentações geométricas etc.Pode-se concordar, pode-se discordar, mas o exemplo dá a dimensão da importância desse irlandês que escrevia em inglês e francês e que agora, felizmente, está um pouco mais acessível a quem lê português.
Adriano Schwartz é professor de arte, literatura e cultura no Brasil da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP - Leste e autor de "O Abismo Invertido"
Estamos ouvindo The Doors - álbum Strange Days